Em 2019 foram descobertas 71 novas espécies. Portuguesa encontrou lagarto
Entre plantas e animais, os cientistas da Academia da Califórnia identificaram 71 novas espécies. Um lagarto espinhoso foi descoberto nas montanhas de Angola por uma investigadora portuguesa.
São mais 71 espécies de plantas e animais que os cientistas da Academia de Ciências da Califórnia descobriram durante o ano de 2019. A lista inclui 17 peixes, 15 lagartixas, oito plantas com flores, seis lesmas-do-mar, cinco aracnídeos, quatro enguias, três formigas, cinco lagartos, dois peixes batóides (raias), duas vespas, dois musgos e dois corais. Foram encontradas em três oceanos e cinco continentes diferentes, e em locais como cavernas, florestas e nas maiores profundezas dos oceanos.
Saber mais sobre estas novas espécies permite uma maior compreensão de ambientes e biomas, assim como reforçar os esforços de conservação.
"Apesar de décadas a vasculhar incansavelmente alguns dos lugares mais remotos da Terra, os cientistas da biodiversidade estimam que mais de 90% das espécies da natureza permanecem desconhecidas", disse o chefe de ciência da Academia, Shannon Bennett, à CNN. "Uma rica diversidade de plantas e animais é o que permite que a vida no nosso planeta prospere: a interconectividade de todos os sistemas vivos fornece resiliência coletiva diante da crise climática. Cada espécie recém-descoberta serve como um alerta importante do papel crítico que desempenhamos para entender e preservar melhor esses ecossistemas preciosos", acrescentou.
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Conheça algumas das novas espécies descobertas:
O lagarto descoberto em Angola por uma portuguesa
O investigador Aaron Bauer descreveu mais de 205 répteis durante a sua carreira e neste ano adiciona mais 15 lagartixas, três lagartos, um lagarto laranja e um lagarto escamado de alta altitude, encontrados por diferentes exploradores do mundo. Bauer recomenda que muitos desses répteis sejam considerados como ameaçados de extinção devido ao seu microendemismo - um termo usado para descrever espécies encontradas apenas numa faixa geográfica muito pequena. Essa distribuição restrita significa que esses animais são particularmente suscetíveis a qualquer tipo de distúrbio.
Um dos lagartos foi descoberto no sudoeste de Angola, nas montanhas da Serra de Neve, no Namibe. O lagarto-espinhoso-de-N'Dolondolo, ou Cordylus phonolithos, mede 138 milímetros do focinho à ponta da cauda. Foi descoberto pela portuguesa Mariana Marques, estudante de doutoramento do CIBIO-InBIO, e curadora assistente da coleção de herpetologia do Museu Nacional de História Natural e da Ciência de Lisboa.

O Cordylus phonolithos foi descoberto em Angola por uma portuguesa.
© Ishan Agarwal
O réptil de tons castanhos-alaranjados possui um corpo achatado e robusto, muito leve, coberto por uma forte "armadura" de escamas. A cabeça é triangular e achatada, coberta com grandes escamas espinhosas.
Um peixe chamado Wakanda
Embora a nação de Wakanda exista apenas no universo da Marvel Comics como a casa do super-herói Pantera Negra, os cientistas acreditam ter encontrado uma versão debaixo de água. É um peixe. Anteriormente desconhecida, a espécie vive em recifes de corais escuros, conhecidos como Twilight Zone, no oceano Índico, na costa da Tanzânia.

o wakanda foi descoberto na costa da Tanzânia.
© D.R.
As suas escamas são tão pigmentadas que o roxo profundo permanece mesmo quando preservado para investigação, quando a cor geralmente é perdida. Os peixes foram nomeados Cirrhilabrus wakanda, ou a fada-vibranium.
Plantas com flores que precisam de proteção
A Trembleya altoparaisensis é uma planta com flores brancas que foi inicialmente colhida há mais de 100 anos por Auguste François Marie Glaziou, um famoso botânico. Descobri-la nos tempos modernos para descrevê-la era uma tarefa difícil. Ricardo Pacifico, que está a fazer doutoramento e é investigador convidado da Academia californiana, diz que as "pessoas julgam que as plantas não se movem, mas movem-se". Por isso partiu para a exploração e foi encontrá-la no Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, no Brasil.

Trembleya altoparaisensis é uma planta com flores e foi encontrada no Brasil.
© D.R.
"Os parques nacionais são protegidos mas precisamos garantir que sabemos o que cresce nesses parques", diz o investigador.
A lesma-do-mar como mestre do disfarce
As lesmas-do-mar são mestres do disfarce. Uma espécie recém-descoberta, Madrella amphora, assemelha-se a ovos de caracol que podem ser encontrados no seu habitat. "Recentemente, confirmamos através da genética que as lesmas-do-mar imitam as cores de outras espécies, mas é raro ver lesmas-do-mar imitar completamente outros animais", disse Terry Gosliner, curador da Academia de Zoologia de Invertebrados. Gosliner é conhecido por várias descobertas sobre lesmas-do-mar.

A lesma-do-mar madrella amphora foi descoberta em 2019.
© D.R.
Os investigadores também descobriram em 2019 outros cinco tipos de lesmas-do-mar coloridas, com disfarces peculiares, cores únicas e tamanhos pequenos em comparação com outras conhecidas.
Os corais do mar da costa de São Francisco
Veículos operados de forma remota estão a ajudar os cientistas a descobrir e a entender os corais encontrados durante as pesquisas em alto-mar. Uma expedição encontrou um belo coral amarelo chamado Chromoplexura cordellbankensis na costa da Califórnia. "Conhecemos a zona entremarés, mas o mar profundo está fora de vista, fora da mente", disse Gary Williams, curador de zoologia de invertebrados da Academia.

Chromoplexura cordellbankensis existe no mar na costa da Califórnia.
© Gary Williams
Da investigação resulta que dois novos corais foram encontrados neste ano no Santuário Marinho Nacional do Cordell Bank, a cem quilómetros da costa de São Francisco.
As aranhas que adoram formigas
Em 2019 foram descobertas cinco novas aranhas, e algumas delas são bem estranhas. Um dos espécimes é da família de aranhas "adoradoras de formigas". A descoberta aconteceu no deserto de Chihuahuan, no México, em torno de um ninho de formigas que havia desabado. Geralmente são subterrâneos. "A única maneira de ver o que fazem é desenterrar. Mas não estão mais no estado natural", disse Darrell Ubick, assistente curador de Entomologia da Academia.

A Myrmecicultor chihuahuensis é uma aranha que vive no deserto de Chihuahuan, no México.
© D.R.
Foram ainda descobertas novas aranhas, que vivem em cavernas e adaptadas à vida no escuro. Foram encontradas na Croácia e ajudam a informar como as espécies se ramificam.
Nas profundidades das Malvinas
Os skate fish são da família das raias. Muitos podem ser encontrados nas ilhas Malvinas, vivendo a profundidades de quase 2000 pés. Na Coreia do Sul são usados na alimentação. Algumas das espécies que acabam no mercado podem ser na verdade uma espécie recém-descoberta chamada Dipturus lamillai.

O Dipturus lamillai vive nos mares das ilhas Malvinas.
© D.R.
A descoberta pode ajudar nos esforços de conservação, para que novas espécies não sejam exploradas em excesso antes que possam ser estudadas, disseram os cientistas.