Covid-19. Homens perdem imunidade mais depressa do que mulheres, indica novo estudo
Investigação francesa pode pôr em causa abordagem "unissexo" da futura vacina. No entanto, a contagem de de anticorpos não é o único fator a ter em conta no sistema imunitário humano.
Os homens perdem a imunidade ao vírus SARS-cov-2 mais depressa do que as mulheres, indica um estudo francês divulgado esta semana, que acompanhou durante seis meses pessoas com covid-19 em hospitais de Estrasburgo.
A investigação, noticiada esta quarta-feira pelo jornal britânico The Guardian, ainda não passou pelo processo de revisão pelos pares (em que a metodologia utilizada é criticada por especialistas da mesma área) mas, a confirmar-se, poderá pôr em causa a tradicional abordagem de tratamento "unissexo" numa futura vacina.
Os cientistas acompanharam 308 médicos e enfermeiros infetados com o vírus da covid e com sintomas moderados. Durante esse período, foi confirmado que os homens produziam cerca de o dobro dos anticorpos contra o vírus do que as mulheres mas que, em contrapartida, o declínio do mesmos se dava muito mais rapidamente.
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"Outros estudos já demonstraram que os homens têm um valor de anticorpos superior ao das mulheres na fase aguda da doença, mas estamos a demonstrar que, apesar de os homens terem uma melhor resposta no início, a queda no nível de anticorpos é muito mais rápida com o tempo, enquanto as mulheres mantêm os níveis mais estáveis", afirmou uma das autoras do estudo, a diretora de virologia da Universidade de Estrasburgo, Samira Fafi-Kremer, citada pelo Guardian.
A razão por trás deste processo é atualmente desconhecido, afirma outro signatário do documento, o diretor do Instituto Pasteur, Olivier Schwartz.
Os dados do novo estudo vêm ao encontro de investigações anteriores, lembra o jornal britânico, que apontam para o facto de os homens parecerem ter o dobro da probabilidade de morrerem de covid-19. Em contrapartida, as mulheres parecem ter maior probabilidade de serem infetadas.
Apesar de fundamentais, os anticorpos não são, no entanto, o único fator a ter em conta relativamente ao complexo sistema imunitário humano. É por isso que surgem, nesta fase de muita incerteza, tantos estudos aparentemente contraditórios sobre a eficácia no tempo de uma futura vacina.
Também esta quinta-feira o DN noticia a publicação de um estudo dando conta que existem pacientes que têm uma "poderosa imunidade" ao vírus, que pode durar anos:
Este estudo foca-se noutro tipo de células que também contribuem para o sistema imunitário e ajudam o corpo a resistir aos vírus da família do SARS.
Só o tempo -- e a experiência científica -- poderá dizer exatamente qual o melhor caminho para combater a atual pandemia.