Henrique BurnayAfinal há condiçõesUma das grandes dúvidas sobre o uso do dinheiro europeu do Plano de Recuperação e Resiliência era saber se a União Europeia (UE) ia deixar que cada país gastasse como quisesse, desde que cumprisse vagamente as regras de investir na recuperação verde e digital e fizesse o dinheiro chegar rapidamente à economia, ou se ia mesmo impor objetivos e o cumprimento das reformas indicadas no Semestre Europeu, o instrumento da UE pensado para transformar e coordenar as economias nacionais. Uma notícia da Lusa, que o jornal Eco publicou na semana passada, parece desfazer as dúvidas.
Henrique BurnaySomos o Mississípi da Europa, mas mandamos maisA única razão por que Portugal presidirá à União Europeia (UE) durante seis meses, enquanto a Carolina do Norte (o nono estado americano mais populoso, com 10,4 milhões de habitantes), o Maine (o 39.º maior estado dos Estados Unidos, com 91,6 mil quilómetros quadrados) ou o Mississípi (o último estado americano em termos de PIB per capita, com um valor parecido ao nosso) nunca presidirão aos Estados Unidos da América é que eles são uma federação e nós não. É óbvio, mas vale a pena recordar.
OpiniãoE eu com isso?É preciso ter pelo menos 40 anos para ter celebrado a queda do Muro de Berlim e a vitória do Ocidente capitalista sobre a União Soviética comunista. Quem tenha 30 anos cresceu com o medo do pós-11 de Setembro. Quem tenha 20 anos, praticamente só conheceu o pessimismo do mundo depois da crise financeira de 2008. Não é, por isso, de estranhar que vejamos coisas diferentes, que a satisfação de uns contraste com a falta de esperança dos outros. Acresce que a realidade é contada como uma tragédia em curso, e não como a história de um mundo cada vez melhor. E isso manifesta-se.
OpiniãoAbertos ao mundo ou fechados na EuropaA União Europeia deve procurar uma autonomia estratégica ou uma autonomia estratégica aberta? A diferença que uma palavra faz é imensa e está a dar discussão nos corredores de Bruxelas e das capitais europeias, ouvindo-se uma ou outra fórmula conforme as preferências.
Henrique BurnayO povo já não está unidoEm março, o medo do desconhecido, o reconhecimento da impossibilidade de se estar completamente preparado e a ignorância do impacto económico contribuíram para um clima de quase unanimidade. Com exceção da União Europeia, cuja utilidade foi posta em causa até à decisão de emitir dívida comum e gastar dinheiro (que ainda não começou a ser gasto), os governos tiveram o apoio dos cidadãos e a cumplicidade das oposições. Nestes novembro e dezembro, não será assim. Olhe-se para França, Itália, Espanha ou mesmo Portugal.
OpiniãoBielorrússsia é um problema, a Turquia é um perigoO governo da Bielorrússia é sobretudo um problema para os bielorrussos; o governo da Turquia é um problema para os turcos e para os seus vizinhos, incluindo os europeus. Chipre usou o poder de veto para obrigar a Europa a perceber, ou a aceitar, que é mais importante reagir às ameaças de Erdogan do que aos crimes de Lukashenko. Fez bem.
OpiniãoTrump, o antiamericanoPara um europeu que admire o Ocidente, Donald Trump merece perder as eleições por ter sido o presidente que reduziu o papel dos Estados Unidos no mundo e traiu a América em casa. Lá fora, tratou os aliados como adversários, foi contabilístico onde devia ter sido estratégico e mesmo onde podia escolher, preferiu autoritários a líderes democratas e liberais. Em casa, com a ajuda dos radicais do Partido Democrata, dividiu um país que era uma nação e já quase não é.
OpiniãoA Europa precisa de fazer mais amigosOs dois maiores problemas na vizinhança da Europa são inevitavelmente problemas europeus. Teremos de lidar com a Rússia e a Turquia, sabendo que os americanos não vão ajudar muito, nem têm particular interesse em fazê-lo - exactamente o oposto do que aconteceu durante décadas. E que se não fizermos nada de consequente, a instabilidade nas fronteiras propaga-se com facilidade.
Henrique BurnayCada um a fazer contas à vidaO que resume o último Conselho Europeu é que cada um dos Estados Membros fez contas absolutamente internas para medir o que ganhava e perdia. Com excepção da Alemanha, que sabe que a escala europeia é a sua, e de França, que acredita que deve ser, todos os outros fizeram contas ao dinheiro que querem receber ou não querem pagar. O europeísmo dos chefes de Estado e de governo da União Europeia não é muito mais que isto. Se deveria ou poderia ser diferente, é outra conversa.
Henrique BurnayA maioria sou euAs longas discussões do Conselho Europeu deste final de semana alimentaram, mais uma vez, algumas teses sobre a Europa. Uma delas é que tudo se resolveria se houvesse mais decisões fundamentais por maioria. O problema dos defensores destas ideias é que são sempre a favor das decisões por maioria desde que estejam de acordo com a decisão.
OpiniãoO preço do europeísmo português Quando Portugal assinou a adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), a 12 de Junho de 1985, fê-lo com enorme consenso político interno, à exceção de comunistas e de alguns isolacionistas de direita, e por duas razões principais: ancorar a recém-democracia portuguesa no Ocidente e receber os fundos europeus. Passados 35 anos, a pertença ao Ocidente é inequívoca, o consenso europeu nacional está diferente mas a dependência dos fundos mantém-se. Nas vésperas de mais uma transformação da Europa, precisamos de fazer estes balanços para nos pormos de acordo quanto ao que aí vem. Ou não.
OpiniãoTempo de escolhasA discussão sobre o risco de morte da União Europeia tem uma particularidade: é sobre dinheiro e sobre políticas, não é geoEstratégica. É por isso que é entre Norte e Sul (ou ricos e nem por isso), socialismos e liberalismos, e federalistas e soberanistas. E é por isso que é tão divisiva.
OpiniãoO inevitável erro chinêsNas últimas semanas, a desconfiança em relação à China tem crescido. Não é tanto por ter sido ali que apareceu o vírus, nem sequer por uma suspeita de se tratar de erro humano. A objeção é muito mais sistémica. A reação da China tem exposto uma potência arrogante e agressiva e a natureza autoritária do regime. O convívio, que parecia pacífico, assenta num equívoco. Nosso.