OpiniãoEstados desunidos da EuropaFosse pela paz, por causa da democracia, para ancorar o destino ao Ocidente, ou para fazer mais comércio, em cada momento da História cada país que escolheu construir ou entrar para a União Europeia (UE) fê-lo por diferentes razões, mas todas elas compatíveis entre si. Com a excepção dos britânicos, que tiveram sempre muitas dúvidas, essa percepção tem sido estável, maioritária e suficiente. Mas pode já não ser.
OpiniãoO fim do fim da História na EuropaUm capitão da Marinha italiana detido quando passava informação confidencial a dois russos.
Henrique BurnaySinais exteriores de poderHá várias maneiras de medir o poder e a influência. A perceção de terceiros é uma delas. No caso da União Europeia, esse critério é útil porque diz duas coisas: a Europa tem poder, mais do que muitos europeus imaginam, e o poder na Europa está mais distribuído do que a maioria acredita.
Henrique BurnayA construção do interesse europeuA Europa precisa de reforçar as suas capacidades de defesa e assumir maiores responsabilidades pela sua segurança, declararam os chefes de Estado e de governo da União Europeia, no final do Conselho Europeu da semana passada. Ao mesmo tempo, três antigos primeiros-ministros europeus sugeriram, num editorial publicado num daqueles jornais que só se leem em Bruxelas, que a Alemanha cancelasse o projeto Nord Stream 2 (o gasoduto que a ligará à Rússia) e que os restantes europeus indemnizassem os alemães pelos custos dessa decisão, fundamental para o que defendem dever ser a política europeia face a uma das suas maiores ameaças: a Rússia.
Henrique BurnayUm problema à distânciaApesar de a política europeia estar frequentemente refém de eleições nacionais - coisa de que os europeístas se queixam muito -, o resultado das presidenciais portuguesas é praticamente irrelevante para o destino da Europa. Por um lado, porque o vencedor faz parte do desconhecido Grupo de Arraiolos, que de tempos a tempos junta os chefes de Estado que não têm competências em matéria de política europeia, mas que, ainda assim, gostam de se encontrar. Por outro, porque nunca houve, e continua a não haver, uma questão europeia nas eleições presidenciais portuguesas. Nem nas restantes, nos últimos anos. Mas começa a haver um problema.
Henrique BurnayVenham mais BrexitsO balanço do acordo sobre o Brexit é que Reino Unido ganhou sem que a União Europeia perdesse.
Henrique BurnayCompotas públicas contra vícios privadosCom um dente a menos e conselhos de sobra, Rui Portugal, o subdiretor-geral da Saúde, agarrou-se ao microfone com a determinação cruzada do amigo do noivo que quer cantar até ao fim da noite e de uma tia velha com conselhos sobre tudo.
OpiniãoDireitas diferentesConsiderar que a "democracia iliberal" de Orbán, a polarização radical da América, por Trump e as suas interpretações nacionais, não fazem parte do mesmo espaço que o centro-direita e a direita liberal e conservadora devia ser banal. A divergência, razoável, devia ser sobre como lidar com isso. Pela Europa fora experimentaram-se várias fórmulas, sendo evidente que não há só uma que seja eficaz. Mas a maioria coincide num propósito: neutralizar os radicais. Em Portugal, alguma reação, à direita, à publicação do manifesto "A clareza que defendemos", revelou que há quem não sinta o incómodo dessas companhias. É esse o problema.
OpiniãoO ódio a Trump cegaDonald Trump foi o pior presidente americano de que nos lembramos. Afastou aliados quando era mais necessário tê-los, dividiu o país ao limite de uma quase guerra civil às portas das eleições e revelou absoluta desconsideração pela instituição da presidência, portando-se como um bárbaro diante dos pilares do Estado. Por todas estas razões, merece perder. Mas isso não é tudo o que há a dizer sobre estes tempos.
Couve de BruxelasO regresso da crise da EuropaSábado passado, em Bruxelas, parecia haver mais gente na rua. Uma espécie de romaria do adeus. A partir de segunda-feira fecham cafés e restaurantes durante um mês, pelo menos, depois dos bares já estarem fechados há vários dias, o teletrabalho volta a ser a regra e não se pode convidar mais de 4 pessoas para casa. Vai ser um confinamento sem ser e as pessoas vieram-se despedir.
OpiniãoUma Europa com vontade de poderUrsula von Der Leyen aproveitou o discurso sobre o estado da União, a semana passada no Parlamento Europeu, para fazer, também, um discurso sobre o lugar da União Europeia (UE) no mundo. A intersecção entre política internacional, economia e poder é definidora da sua visão de uma Europa geopolítica.
Henrique BurnayUma potência franco-alemãNas últimas semanas Merkel e Macron definiram, em conjunto ou em acordo, o essencial da agenda europeia. Da proposta de um plano de recuperação à reação possível à Bielorússia e ao Líbano (onde a explosão no porto ainda pode acabar a fazer implodir o regime), Alemanha e França ditaram os termos das respostas europeias. Alguns viram nisto o regresso do eixo franco-alemão que ditou o destino da Europa nos anos 1980 e 90, e sempre que alguma coisa de fundamental acontece. Em parte é isso, mas há mais ambição.
Henrique BurnayA Europa não tem poderUma das grandes ilusões sobre a Europa é a de que garante a paz e promove a democracia, internamente e na sua vizinhança, por virtude do seu exemplo e do seu dinheiro. É verdade que foi a paz que a justificou, que foi a democracia que atraiu os países da Ibéria e os de leste, e que todos aqui procuram a prosperidade, mas a Europa não garante nada disso sozinha. Falta-lhe poder e influência.