Quase o dobro das mortes em Lisboa. Hospitais à beira da rutura
Administrações de Santa Maria, Torres Vedras e Garcia da Orta dizem estar no limite da capacidade. Na região de Lisboa morre-se agora muito mais do que no Norte
A noite de sexta-feira para sábado ilustrou - com grande visibilidade nas redes sociais e nos media em geral - como a grande pressão a que está a ser sujeito o sistema hospitalar público em Lisboa já remete para um horizonte de rutura a muito curto prazo.
Tanto em Santa Maria como em Torres Vedras (onde há um surto com 157 infetados), acumularam-se filas de ambulâncias em longas demoras à espera nas urgências covid para deixarem doentes. Isso ocorreu porque outras urgências na região esgotaram capacidade de atendimento, redirecionando os doentes.
Os administradores hospitalares carregam nas tintas ao caracterizarem a situação. "Máxima sobrecarga" e serviço "acima dos limites" (Daniel Ferro, administrador de Santa Maria); "situação muito complicada" (Elsa Baião, administradora de Torres Vedras); "cenário de pré-catástrofe" (comunicado do Garcia da Orta). Todos dizem também que estão a aumentar a capacidade de internamento (geral e de cuidados intensivos). E queixam-se uníssono da falta de recursos humanos, sobretudo de enfermeiros especialistas em cuidados intensivos.
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O mistério de Lisboa
Os decretos do estado de emergência da segunda vaga da pandemia deram ao SNS o direito de impedir rescisões de contratos. Isso porém já não foi a tempo de travar a debandada que ocorreu entre o fim dos primeiros estados de emergência (maio de 2020) e o início dos segundos (4 de dezembro 2020).
Este sábado, o número de mortos atribuídos à covid-19 voltou a ser o mais alto desde que a pandemia chegou a Portugal: 166. O boletim de ontem da DGS revelou ainda a permanência de algo constante nos últimos dias: morre-se muito mais na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) do que no resto do país.
Dados coligidos pelo DN a partir dos boletins da última semana (de 10 a 16 de janeiro) indicam que, no total, morreram 426 pessoas em LVT (média de 60,8 por dia). Ora na região Norte o número de mortos no mesmo período foi de quase metade (249, ou seja, 35,6 por dia).
Ora esta incidência maior de mortos em Lisboa, quando comparada a situação com o Norte, não tem equivalência no número de novos infetados. LVT registou no período em causa 24230 novos infetados (média diária: 3461); no Norte o valor absoluto foi de 20637 (média: 2948). A média de Lisboa é superior à do Norte mas pouco - nada que se compare com a diferença no número de mortos. O fenómeno ainda não tem explicação oficial.
A situação hospitalar em Lisboa deu pretexto à líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, para dizer que "a cada dia que passa é mais inexplicável" que o Governo não tenha ainda requisitado o setor privado e social.
Quinta-feira passada, o primeiro-ministro, António Costa, revelou-se em entrevista à TVI resignado com o facto de os grupos privados Luz Saúde e Lusíadas não estarem "em condições para disponibilizar ainda camas". "Não vale a pena estarmos aqui neste jogo. Há uma coisa que é preciso ter clara: não há aqui nem bloqueios ideológicos nem má vontade de uns nem má vontade de outros."
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