Detido suspeito de atear pelo menos 16 fogos, incluindo o de Mação em 2017
Homem de 38 anos é suspeito de ter elaborado engenhos eletrónicos que provocaram incêndios florestais
Um homem de 38 anos detido esta segunda-feira pela PJ é suspeito de ter sido o autor de pelo menos 16 incêndios, incluindo o grande fogo que assolou Mação, em 2017, e que consumiu 33 mil hectares, afirmou a Judiciária.
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A investigação começou em 2018 e culminou com a detenção de um engenheiro eletrotécnico suspeito de ter ateado quatro incêndios florestais nos concelhos de Sertã e Proença-a-Nova, no distrito de Coimbra, que deflagraram no domingo, com recurso a engenhos eletrónicos alegadamente elaborados pelo suspeito.
No entanto, a investigação que levou a um levantamento exaustivo de várias áreas ardidas entre 2017 e este ano, leva a crer que o homem poderá ser o autor de pelo menos 16 incêndios - o mesmo número de engenhos encontrados -, afirmou o coordenador do gabinete de investigação de incêndios da Diretoria do Centro da PJ, Fernando Ramos, em conferência de imprensa.
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"É provável que haja mais", admitiu, salientando que muitos dos engenhos podem passar despercebidos ou acabaram destruídos com o incêndio.
Segundo Fernando Ramos, o engenheiro eletrotécnico que residia na Sertã é suspeito de ter sido o autor, em 2020, dos incêndios em Oleiros e Proença-a-Nova, em que os fogos resultaram, respetivamente, em 5.000 e 14.000 hectares de área ardida, e ainda do grande incêndio de Mação, em 2017, em que houve 33 mil hectares destruídos pelas chamas.
Em nenhum dos incêndios identificados em que o detido é suspeito de ter sido o autor houve vítimas mortais ou feridos graves.
De acordo com Fernando Ramos, o suspeito usava um temporizador programado para uma certa hora ou dia (tinha capacidade de programar até 11 dias de distância), sendo que o fecho do circuito provocava a incandescência no filamento de uma lâmpada, que estava exposto e que permitia a ignição da matéria combustível próxima.
Tal engenho permitia que o autor podia "estar no trabalho ou no plano social e não ter nada a ver com o momento em que o incêndio começa", realçou o diretor nacional adjunto da PJ, Carlos Farinha, referindo que os incêndios, muitas vezes, eram programados para coincidirem com eventos sociais de maior impacto, como foi o caso de um incêndio em 2020, em que aconteceu ao mesmo tempo que decorria a Festa do Maranho, na Sertã.
O autor terá também conhecimento sobre a evolução de um incêndio e da forma como este se comporta mediante linhas de água, declives ou temperaturas, explicou.
Carlos Farinha realçou que aquando da detenção do indivíduo já a PJ tinha feito muita investigação e estava munida de mandados de busca, aproveitando o momento.
Esta é uma investigação "com muitas páginas e alguns volumes", destacou, notando ainda que se inovou na investigação de incêndios florestais, ao terem sido usados métodos intrusivos, como a localização celular ou a interceção telefónica, meios pouco usados nesta área.
Questionado pela agência Lusa sobre qual terá sido a motivação do suspeito, Carlos Farinha escusou-se a avançar com uma resposta, acrescentando, porém, que tudo leva a crer que se trata de uma atuação de uma pessoa só.
"Isto não caiu do céu", salientou o subdiretor da Diretoria do Centro da PJ, Valter Constantino, realçando a investigação complexa que foi levada a cabo.