Brexit. "Espero que à quarta seja de vez", diz Costa
Chefe de governo português em Bruxelas para o Conselho Europeu onde se discutiram medidas de combate às alterações climáticas. Apenas um país, a Polónia, não aceitou a meta de 2050 para atingir a neutralidade carbónica.
O primeiro-ministro português, António Costa, admitiu esta madrugada, em Bruxelas, que a "confirmarem-se os resultados [da noite eleitoral no Reino Unido] que garantam uma saída ordenada" daquele país da União Europeia, pode até representar "um alívio" no dossier do Brexit.
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"Tendo que haver Brexit, que seja um Brexit devidamente negociado, acordado [e] preparado", disse o chefe de governo, considerando que, nesse sentido, "é claro que é um alívio", porque de outra forma, teria "consequências, quer para os direitos dos cidadãos, quer para as empresas", e isso "seria extremamente negativo".
O primeiro-ministro não arrisca dizer se, a partir de agora, será possível haver uma saída antes do dia 31 de janeiro, pois "depende de vários fatores", não só internos mas também a nível europeu, com a necessária aprovação final do acordo de saída no Parlamento Europeu.
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"Agora vamos aguardar pelo resultado final das eleições e vamos ver se o novo Parlamento [britânico] aprova finalmente o acordo. Como se sabe, este é o quarto acordo que a União Europeia negoceia com o Reino Unido. Portanto espero que a quarta seja de vez", comentou.
Um elefante chamado Brexit
A urgência climática deu esta quinta-feira nas vistas em Bruxelas, com uma ação de protesto de ativistas da Greenpeace, no dia em que Ursula von der Leyen apresentou, no Conselho Europeu, o seu plano de combate ao aquecimento global. Mas houve um tema que sempre pairou sobre o encontro, e que ninguém quis falar sem que houvesse resultados.
Sem estar na agenda oficial, o Brexit foi um tema sempre presente, com a cadeira vazia de Boris Johnson, que anunciou nas vésperas que não viria à cimeira em dia de eleições no Reino Unido. Em Bruxelas, quem comentou o assunto classificou-o como "um tema nacional", sobre o qual alguns chefes de Estado ou de Governo nem tinham opinião, caso da primeira-ministra Dinamarquesa, Mette Frederiksen.
"No Brexit, nem tenho uma opinião. Sobre as eleições no Reino Unido que estão a acontecer, é uma questão nacional", afirmou à entrada para a cimeira, admitindo que "se for possível chegar a um acordo sobre o Brexit após as eleições, do ponto de vista da Dinamarca, realmente precisamos seguir em frente, uma vez que há outras questões, na Europa, que o Brexit está a ofuscar".
Outros líderes repetiram a mesma ideia, dizendo que o Brexit "deve ser organizado de maneira ordenada" e o período de transição "utilizado para obter o melhor acordo possível para todos, inclusive para a Europa", como afirmou a primeira-ministra belga, Sophie Wilmès.
O primeiro ministro da Letónia, Arturs Kariņš considerou igualmente que o momento eleitoral no Reino Unido é "assunto interno", sobre o qual "não é possível fazer comentários".
"O nosso objetivo é ter um ótimo relacionamento com Reino Unido, que é um importante parceiro comercial e de segurança. Após o Brexit, é importante perceber bem como lidar com os assuntos comerciais e da segurança. Somos um forte parceiro da Grã-Bretanha, estejam eles na UE ou não", afirmou, escusando-se a fazer comentários sobre as eleições, ainda antes de serem conhecidos os resultados.
UE ainda não conseguiu fechar metas climáticas
Os trabalhos da cimeira prolongaram-se até de madrugada, para discutir as metas climáticas propostas por Ursula von der Leyen no seu pacto para o combate ao aquecimento global. Recorde-se que, na véspera da cimeira, a presidente da Comissão Europeia apresentou um pacote de 50 medidas, com vista a reduzir para metade as emissões poluentes, até 2030, para que o continente seja ambientalmente neutro, em 2050.
Ao que o DN apurou, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki opôs-se às datas fixadas para atingir os objetivos, tendo chegado a apontar 2070 como uma possibilidade para a Polónia se comprometer com a neutralidade carbónica.
Nas conclusões da cimeira, todos concordaram, finalmente, com as metas propostas pela Comissão, mas "houve um país, que assumiu não estar em condições de atingir a neutralidade carbónica em 2050", comentou António Costa, sem afirmar que esse país é a Polónia, como o DN confirmou junto de fonte europeia.
"Podíamos dizer que temos boas razões para estar 90% satisfeitos, visto que 26 dos 27 Estados-Membros assumiram o compromisso de atingir neutralidade de carbono até 2050", afirmou Costa, lembrando que "Portugal tinha sido o primeiro país do mundo a assumir este compromisso".
"Visto que há ainda um país que não se sente em condições de assumir, para já, este compromisso, voltaremos a discutir a questão em junho, para saber se este país também já está em condições de assumir esse compromisso", disse Costa.
Proposta finlandesa rejeitada
O chefe do governo adiantou ainda que não houve qualquer discussão sobre a proposta finlandesa para o orçamento de longo prazo. Esta foi "diplomaticamente morta" e o tema foi entregue ao presidente do Conselho Europeu para ser discutida ao longo do próximo ano.
"A discussão foi concluída em cinco minutos e ficou decidido que a partir de agora o presidente do Conselho, Charles Michel, irá ter reuniões bilaterais com todos os Estados-Membros para passarmos à negociação final do quadro financeiro plurianual. Espero que seja uma negociação rápida porque é preciso evitar a todo custo que haja um grande atraso na aprovação do novo quadro", afirmou António Costa.