Bastonária dos Farmacêuticos afirma que autoridades falam irresponsavalmente de vacinas
"É irresponsável usar a vacina como meio de apontar o caminho", quando "as várias vacinas, com as suas características, vão exigir uma estratégia nacional que vai levar tempo", diz Ana Paula Martins.
A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos considerou esta quarta-feira que as autoridades de saúde portuguesas falam de forma irresponsável nas potenciais vacinas para a covid-19, valorizando-as sem haver qualquer estratégia para a sua aplicação.
Intervindo na Convenção Nacional da Saúde, Ana Paula Martins afirmou que "o processo [de descoberta e aplicação de uma vacina] é tão complexo que é completamente leviano fazer considerações sobre a distribuição da vacina sem saber exatamente quais as primeiras que vão chegar ao mercado, quais as condições de refrigeração para as manter e quais os grupos primários a vacinar".
Por isso, declarou que é "irresponsável usar a vacina como meio de apontar o caminho", quando "as várias vacinas, com as suas características, vão exigir uma estratégia nacional que vai levar tempo".
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As vacinas "não são uma solução milagrosa da pandemia, apesar de serem um importante desenvolvimento", afirmou, defendendo testes mais alargados à população como uma das medidas eficazes para controlar a pandemia e a utilização de medicamentos como formas de profilaxia e prevenção.
Ana Paula Martins defendeu que deve ser criada uma comissão de peritos que inclua "profissionais de saúde, a indústria farmacêutica, a Direção-Geral da Saúde, o Ministério da Saúde, virologistas e outros clínicos", apontando que Portugal será "um dos poucos países da Europa" a não ter ainda uma comissão dessas.
A bastonária considerou que com medidas como as restrições ao movimento, recolheres obrigatórios e estados de emergência, não estão a conseguir o "achatamento da curva" epidémica e a redução do número de novos casos diários, defendendo que é preciso procurar alternativas e ouvir "vozes discordantes e contraditórias".
"A ciência não é a preto e branco. Continuamos a seguir exemplarmente manuais que já ninguém percebe", apontou.
O presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, João Almeida Lopes, criticou que não se discuta utilização profilática de medicação na prevenção da covid-19, que "não se dê esperança às pessoas".
Questionado sobre se a defesa do uso da hidroxicloroquina por políticos como os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos enviesou a discussão científica possível sobre os seus méritos, afirmou que "de políticas de saúde pública e medicina percebem tão pouco os políticos de direita como os de esquerda".
Outro aspeto fundamental para João Almeida Lopes é "manter os cuidados de saúde primários a funcionar".