As vacinas
Em primeiro lugar, a crueza dos números... pode ser que ajude a compreender a necessidade de comportamentos de quarentena social, e repito comportamentos de quarentena social, o que não é necessariamente o mesmo que estar em quarentena.
Os números:
Com uma taxa de letalidade inicial de cerca de 3% - em cada cem pessoas infetadas, três poderiam morrer. Em cada mil pessoas infetadas, 30 poderiam morrer.
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Em cada cinco mil pessoas infetadas (a população do Porto Santo, mais ou menos), 150 pessoas poderiam morrer.
Se considerarmos que cerca de 60% da população poderia vir a ser infetada, isto significaria que cerca de 3600 pessoas no Porto Santo poderiam vir a ser infetadas e que, destas, 90 pessoas poderiam morrer.
Imaginemos que nos últimos seis meses teriam morrido cerca de 90 pessoas no Porto Santo, o que daria cerca de 15 por mês. Todos nós conheceríamos alguém.
Generalizando, podia ser um amigo, a mãe, o pai, uma irmã ou um irmão, poderíamos ser nós, quem sabe?
Pode parecer pouco, mas é imenso para uma população de cinco mil almas!
Isto sem medidas de contenção da contaminação social, sem vacinas, sem todas as restrições a que fomos obrigados ao longo do ano que passou.
Mas, yuupiii, chegaram, elas chegaram, chegaram as vacinas!!! E tudo vai ficar bem, rejubilam as hostes!!
De agora em diante tudo vai voltar a ser como era, tudo normal como dantes no quartel de Abrantes, diz o povo em êxtase...
Está certo, chegaram algumas vacinas que terão o efeito de imunizar uns quantos, não muitos, mas os suficientes para que o extasiante povo ache que o "normal" está ali ao virar da esquina.
Mas há sempre um mas, as coisas não são assim, e isso não tem sido dito (pelo menos eu não o tenho visto nem lido), as coisas não são bem assim:
Vejamos
- uma pessoa leva a primeira dose da vacina e ainda não está imunizada, há que continuar com cautelas e caldos de galinha
- uma pessoa leva a segunda dose da vacina e continua por mais cerca de 15 dias sem ter a imunidade completa, há que continuar com cautelas e caldos de galinha
- uma pessoa está imunizada pela vacina e o que acontece é que não sofrerá a doença, mas pode carregar o vírus consigo e transmiti-lo a quem está à volta, logo, há que continuar com cautelas e caldos de galinha
- muitas pessoas estão imunizadas pela vacina, mas continuam a ser potenciais transmissoras, há que continuar com cautelas e caldos de galinha.
O que é necessário dizer e explicar é que a vacina previne a doença em quem foi vacinado mas não mata o vírus e, portanto, essa pessoa pode transmiti-lo, mesmo que não tenha qualquer sintomatologia, pois está "protegido" imunologicamente.
Isto é, quem foi vacinado tem de continuar a ser testado e com os mesmos cuidados de higiene, uso de máscara e distanciamento físico como qualquer cidadão que não tenha sido ainda vacinado, porque senão é vetor de transmissão e é fator de risco para com todos os outros.
E isto vai durar pelo menos mais dez (10) meses, se não quisermos ter os números acima falados. Sei bem que não os atingiremos, mas cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém!
Senhores das autoridades, nacionais e regionais, façam o favor de fazer menos espalhafato com a chegada das ditas e explicar convenientemente o que vem por aí!
Pela nossa saúde!
Médico