Investigadores da PJ não são testemunhas
O advogado Rui Patrício, que defende o ex-presidente da REN José Penedos no processo 'Face Oculta', arguiu a irregularidade da audiência de hoje, alegando que os investigadores da PJ não são testemunhas.
Em causa, está o depoimento prestado pelo inspetor da Polícia Judiciária António Costa, que começou a ser ouvido esta quinta-feira como testemunha de acusação.
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"Não tenho nenhum medo dos depoimentos dos agentes da PJ. Entendo é que os agentes da PJ não são testemunhas. Não viram nada, não sabem nada. Vêm cá contar a investigação. E isso, eu não posso fazer, porque não tenho agentes da Judiciária a trabalhar comigo e não posso arrolá-los para vir contrabalançar a tese da acusação", disse aos jornalistas o causídico, à saída da sala de audiências.
Rui Patrício arguiu a irregularidade da audiência depois do juiz presidente Raul Cordeiro ter indeferido um requerimento, apresentado ao final da manhã pela defesa de José Penedos, a requerer que não fosse valorado o depoimento do referido inspetor, por se tratar de "prova não permitida".
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"A testemunha deu conta ao tribunal não de aspetos concretos de diligências que tenha feito, mas das suas conclusões sobre a prova", justificou, na altura, o advogado.
Embora reconhecendo que no período da tarde o depoimento tenha sido "bem menos expansivo", Rui Patrício diz continuar a entender que o mesmo "não é legalmente admissível em toda a sua extensão", com exceção para dois segmentos em que o inspetor relatou concretas diligências de obtenção da prova.
A sessão de hoje ficou marcada pelo depoimento do inspetor da PJ António Costa que esteve a explicar as relações comerciais entre a REN e a O2, que pertence a Manuel Godinho, o principal arguido.
Questionado pelo procurador do Ministério Público, Carlos Filipe, o inspetor disse que a REN representava para a O2, em 2006 ou 2007, a empresa com "mais expressão em termos de negócios". "Representava 70 por cento ou mais do volume de negócios pelos resíduos que gerava", acrescentou.
António Costa revelou ainda que, a partir de 2002, deixou de haver pesagem de resíduos na REN, um facto que o próprio admite ter estranhado, acrescentando que a carga era verificada por cálculo "a olho", com base no volume dos camiões.
Para o inspetor, a REN foi prejudicada pela O2 em meio milhão de euros, num só concurso, referindo-se a alegadas irregularidades detetadas no processo de desmantelamento da Central de Alto Mira.
Segundo a testemunha, o concurso previa um levantamento de 200 toneladas de resíduos e a O2 acabou por registar 6800 toneladas, o que fez com que a REN pagasse um valor "muito superior" àquilo que estava previsto.
A próxima sessão está marcada para o dia 31 com a continuação da inquirição do inspetor da PJ António Costa.
O caso 'Face Oculta' está relacionado com uma alegada rede de corrupção que tinha como objetivo o favorecimento de um grupo empresarial de Ovar ligado ao ramo das sucatas nos negócios com empresas do setor empresarial do Estado e privadas.
No banco dos réus estão sentados 36 arguidos (34 pessoas e duas empresas) que respondem por centenas de crimes de burla, branqueamento de capitais, corrupção e tráfico de influências.