Nova Iorque cabe toda em Alhandra
No Táxi do Jack foi exibido ontem no Forum, secção paralela de Berlim, e é uma confirmação da internacionalização da realizadora Susana Nobre.
Alhandra e Nova Iorque, cidades gémeas na ironia de Joaquim Calçada, Jack, para os amigos. Com um cabelo billy a emular Elvis, esta é uma personagem de cinema pura, alguém que traz o passado de taxista de Nova Iorque para um presente onde tenta chegar à reforma enquanto procura carimbos de procura de emprego ao abrigo do programa Novas Oportunidades para cidadãos mais idosos. Tudo é real, mas também tudo é ficção neste cinema de verdade de Susana Nobre. No Táxi do Jack foi exibido ontem no Forum, secção paralela de Berlim, e é uma confirmação da internacionalização desta cineasta lisboeta depois de Provas, Exorcismos (Quinzena de Cannes, 2015) e Tempo Comum (Roterdão, 2018).
O melhor desta boleia é nunca olhar para o retratado como "figura cromo" e aí a câmara respeita-o dos pés à cabeça. Na essência, este retrato é uma prova da dignidade de um homem cuja verdade permite flashbacks até à sua aventura americana e a um amontoar de pequenas histórias que o tornam muito próximo de uma essência portuguesa. Depois, pormenor fundamental, Susana Nobre filma uma paisagem, toda a área de Alhandra e Vila Franca de Xira, com uma intuição muito própria e planos elaborados e muitíssimo bem pensados. Isso e uma escala humana à Kaurismaki tornam No Táxi do Jack num objeto curioso e sem espalhafatos no qual a encenação de situações do dia-a-dia ganha uma espécie de matéria de sonho, lado a lado com um irreal nostálgico.
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