Igreja de São Cristovão. 100 mil euros da câmara de Lisboa para recuperar quadros
Recuperado o telhado, o próximo passo é restaurar as mais de 30 telas de Bento Coelho da Silveira. Os trabalhos devem custar 350 mil euros. O cheque da autarquia veio diminuir a fatura para 250 mil.
Aquelas telhas, centenas delas, que o padre Edgar Clara tinha à entrada da igreja de São Cristóvão no verão de 2015 já estão todas no sitio - o telhado deste edifício na Mouraria. Recuperá-lo assim como ao interior e às pinturas, foi a missão que o sacerdote abraçou desde que aqui chegou. Estão assinadas com dedicatórias e nomes de todos os que contribuíram. "Tinha pessoas que vinham cá com o dinheiro da reforma, assinar uma telha para cada um dos filhos", conta.
Quando tudo começou, Marcelo Rebelo de Sousa não tinha sido eleito. Uma vez Presidente da República, visitou a igreja de São Cristovão. A primeira telha que Edgar Clara pôs no sítio tinha o seu nome. A última foi a de Fernando Medina, que, de visita à igreja esta quarta-feira, deixou a notícia de que a câmara municipal de Lisboa financiará em 100 mil euros a recuperação das 36 telas do século XVII da autoria ou da escola de Bento Coelho da Silveira, a próxima fase dos trabalhos.
"Trata-se do maior apoio até ao momento recebido para a recuperação de uma das mais emblemáticas igrejas que resistiu ao terramoto", diz Edgar Clara numa nota enviada às redações. A recuperação dos quadros, que se podem ver nas paredes da igreja, deverá custar um total de 100 mil euros.
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"Fernando Medina explicou que este apoio vem na sequência da vontade expressa dos lisboetas aquando do Orçamento Participativo. Nessa altura os lisboetas manifestaram a sua vontade em apoiar a iniciativa de um grupo de cidadãos locais que desejavam dar o esplendor a esta emblemática igreja", adianta Edgar Clara.
O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, anunciou que também que irá ajudar na recuperação de uma tela, segundo o sacerdote.
Ao DN, Edgar Clara conta que quis terminar a reabilitação do telhado e que tinha decidido não continuar a angariação de fundos enquanto não tivesse usado as verbas que foram amealhadas para a substituição das telhas. "Esta parte de fora que me garante que a parte interna fica em segurança, está concluída". As obras, que incluíram o restauro de pedras, pintura, reboco e caleiras, custaram 140 mil euros.
A próxima fase é a mais dispendiosa do total de 1 milhão de euros que Edgar Clara calcula que será necessário, no fim das contas, para restaurar em pleno este edificado: são 350 mil euros para os quadros que adornam a igreja, cerca de 10 mil por cada tela, que pode ser feita através da página de Facebook Arte por São Cristóvão ou tornando-se padrinho da obra por um valor mensal (10 euros).
Uma delas já está: a grande tela do altar-mor que no início de 2015 se julgava perdida. O crowdfunding de 10 mil euros permitiu o pagamento do trabalho.
Grande tela do altar-mor foi restaurada
Essa tela de grandes dimensões, cujo paradeiro era desconhecido quando Edgar Clara passou a liderar as igrejas da freguesia de Santa Maria Maior, encontrava-se afinal no sítio de sempre - um compartimento. Tendo deixado de ser usada nas épocas litúrgicas em que primordialmente devia mostrar-se, acabou por cair no esquecimento. Estava em muito mau estado. "Não se conseguia ver nada", resume o sacerdote.
"Uma parte não foi possível recuperar", diz o padre Edgar Clara. "Há fotografias do que teria sido, mas replicar já teria sido inventar. É melhor assumir a falta", continua. "Mas foi feita uma tela maior onde foi assente e a partir dali se fez a integração", explica. A recuperação da Signium, empresa de restauro e gestão de património cultural, foi acontecendo dentro da igreja, à vista de quem quisesse entrar.
No restauro, fica em evidência o que devia ser pintura e já não é, foi limpo e tratado tudo o resto. E assim descobriram também que, neste caso, a tela não foi pintada por quem julgavam. "Descobrimos que não é Bento Coelho da Silveira, O Anísio [Franco, conservador do Museu Nacional de Arte Antiga], diz que é anterior".
Já está a fazer planos para a próxima etapa. "Queria ver se arranjava uma empresa ou duas que que me financiasse a luz", diz. "O quadro elétrico é mais velho do que a própria igreja."