O mais inovador Surface chega à Europa. É para quem este Microsoft Android em dois ecrãs?
Sem dúvida um produto de nicho -- até pelo preço -- o Surface Duo começou a ser comercializado no Velho Continente esta semana. Um gadget altamente inovador, para quem trabalha muito "na estrada" e/ou quer estar sempre a experimentar as últimas novidades tecnológicas.
Comecemos por aquilo que é quase sempre deixado para o fim: este aparelho é caro. O preço de venda recomendado para o Reino Unido é de 1349 libras, para a Alemanha e França 1549 euros (salvo mudança de última hora).
Isto, quando nos Estados Unidos, cinco meses após o seu lançamento, o respetivo preço baixou de 1399 dólares (1162 euros) para $999 (830 euros), mais impostos.
Mas afinal o que é que estes endinheirados clientes levam para casa? Basicamente, o mais inovador portátil Android criado nos últimos anos, que apesar de -- segundo todas as críticas especializadas até hoje publicadas -- estar longe de ser um aparelho perfeito, é uma sofisticada peça de engenharia e uma ferramenta de trabalho "na estrada" como nenhuma outra.
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O Surface Duo é o primeiro aparelho Microsoft com sistema Android, em vez de correr uma variante do Windows. Tenta assumidamente criar um novo segmento de mercado dos aparelhos portáteis, algures entre os smartphones e os tablets.

O Duo fechado é um pouco mais largo do que um smartphone "tradicional"
© Microsoft
Com 14,5 centímetros de altura e 9,33 de largura quando fechado, o Duo é um pouco mais largo do que habitualmente encontramos num telemóvel. Mas na realidade é quando aberto que ele se mostra em toda a sua potencialidade: com 18,6 cm de largura. Aí, este pequeno aparelho de dois ecrãs assume qualquer configuração que se pretenda, graças a uma inovadora dobradiça de 360º -- que a Microsoft afirma ter demorado 5 anos a desenvolver. Sob a forma de livro, tablet, laptop, tenda ou um grande telefone, basta posicionar o aparelho como se pretende que ele responde.
Essa é, pelo menos, a promessa.
Em cinco meses de críticas em publicações da especialidade americanas não existem grandes reparos negativos ao hardware do Duo. Pelo contrário. Extraordinariamente elogiada é a capacidade que os engenheiros da Microsoft tiveram ao conseguir enfiar toda a "maquinaria" em 9,9 milímetros de espessura. (Apenas algum cuidado será preciso ter ao ligar o cabo USB-C pois, a julgar por alguns vídeos no YouTube, há quem tenha conseguido partir a estrutura do aparelho com a força bruta a enfiar a ficha).

Em "tenda". A dobradiça de 360º permite virar os dois ecrãs para qualquer posição.
© Microsoft
Maquinaria que não é pouca. O Duo é revestido a vidro de ambos os lados (Gorilla Glass 5), ecrãs AMOLED 8.1 polegadas (2x) ratio 3:2, um chipset Qualcomm SM8150 Snapdragon 855 7nm, CPU Octa-core e um GPU Ardeno 640. A bateria (na realidade são duas) é de 3577 mAh, com Fast charging.
É uma ferramenta de "produtividade", ou seja de trabalho, como diz Panos Panay, o diretor de Produto da Microsoft. Já enquanto instrumento de lazer... A única câmara do Duo tem "apenas" 11 megapíxeis de resolução, o que é aparentemente pouco numa época em que os mais comuns telefones contabilizam às vintenas ou mais ainda...
Curioso é que o design único do Duo faz com que ele só precise de ter uma câmara, já que a dobradiça de 360º permite que a mesma funcione como selfie-cam ou câmara principal.
Outra coisa que o Duo também não tem é suporte para NFC -- uma das opções, por exemplo, para usar o MB Way. Quem quiser utilizar um Duo para pagar num terminal de Multibanco estará limitado ao sistema da câmara com o QR code (que, de qualquer forma, é provavelmente o mais utilizado).
Dois ecrãs é melhor do que um grande?
Enquanto a Samsung tem apostado em telemóveis com ecrãs dobráveis, como o Galaxy Z, a Microsoft considera que ter um aparelho com dois ecrãs permite uma utilização mais intuitiva no "multitasking".
"Temos décadas de experiência no ambiente Windows e da maneira como se pode pegar em múltiplos espaços definidos. É mais fácil [para o utilizador] processar assim a informação e poupa-se tempo", afirmou Panos Panay na apresentação do produto, em setembro.

O Duo em posição "laptop"
© Microsoft
Percebe-se bem a lógica por trás do raciocínio. O cérebro humano funciona melhor tendo áreas de trabalho definidas: ao abrirmos um livro visualizamos duas áreas concretas, página par, página ímpar -- aliás, a app do Kindle para o Duo está otimizada para este aparelho e porta-se como se de um livro se tratasse --; e quando abrimos um email é mais simples ter a lista de correio à esquerda e o email ativado à direita.
Neste último caso, não necessitamos de dois ecrãs para o fazer -- o gestor de emails do Windows, por exemplo, faz esse efeito no ecrã de qualquer computador --, mas em existindo a possibilidade de ter duas áreas de trabalho delimitadas é instintivo utilizá-las como tal.
O problema será levar o software a fazê-lo.
E aqui -- mais ainda do que na questão da câmara menos boa ou na falta do NFC -- reside neste momento o calcanhar de Aquilles do Duo.
Em primeiro lugar, como instrumento inovador que é, exige do utilizador uma curva de aprendizagem. Há alguns gestos novos, como por exemplo para enviar a imagem de um ecrã para o outro (com a app aberta, deslizar o dedo de baixo para cima, arrastar para o outro ecrã e largar); maximizar uma app de modo a ocupar os dois ecrãs (com a app aberta, deslizar de baixo para cima, arrastar até ao meio dos ecrãs e largar); voltar ao ecrã anterior (com a app aberta, deslizar da extremidade até ao centro). Todos os comandos podem ser vistos AQUI.
Veja os vídeos da Microsoft AQUI
Em segundo lugar, apesar de a Microsoft ter adaptado para o Duo algumas das suas apps (como o Outlook ou o Teams), a lista continua a ser muito reduzida, mesmo cinco meses após o lançamento. Pelo que arriscamos perder todo o potencial de um aparelho como este.
Dificilmente o Duo alguma vez será um êxito de vendas, não apenas pelo preço, mas também porque parece estar a tentar criar uma necessidade que talvez pouca gente tenha. Um telemóvel que na realidade não o é. Um tablet que muito menos o deixa de ser.
Mas por alguma razão a revista Time o elegeu como uma das melhores invenções de 2020. Num mercado em que, desde o lançamento do iPhone, os smartphones basicamente não passam do mesmo, alguém teve uma ideia inovadora, investiu (muito) dinheiro e tempo para a desenvolver e o resultado está aí.
Este sim é um computador de bolso que se transforma praticamente no que quiser. Junte-lhe um rato, Blue Tooth, tenha um pouco de paciência com ele (como acontece com qualquer jovem) e apostamos que acabará por fazer o que lhe pede. Vale os 1500 euros? Depende exclusivamente do que esse dinheiro valer para si.
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