José MendesVoltar ao oceanoNa semana que ora iniciamos, Lisboa será o centro do debate em torno dos oceanos. E são mais as interrogações do que as respostas que hoje gravitam em torno desse ativo - único, imenso e irreplicável - que são as águas salgadas que ocupam três quartos do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos é uma das campainhas que mais deveriam despertar o nosso Portugal, pois vivemos desde sempre paredes meias com o Atlântico, numa relação que raramente exponenciou o benefício mútuo.
José MendesO Estado visto da janela da CCPPassada a pandemia, reemergem em todo o seu esplendor a mediocridade e a mendicidade de uma certa geração de representantes dos empresários. Para ser franco, não me espanta. Foram segurados pelo Estado durante toda a crise sanitária, tiveram salários pagos, contribuições reduzidas, moratórias nas suas dívidas e por aí fora, mas agora voltam ao velho e gasto discurso de ódio ao Estado, ambicionando sempre a socialização dos prejuízos, por oposição à privatização dos lucros.
José MendesPolítica, Ciência e PessoasHá uns anos, ainda em funções governativas, fui convidado para uma reunião de diretores de agências nacionais de ambiente e energia dos estados-membros da União Europeia. Recordo o admirável empenho daquelas pessoas na descrição de cenários para a transição energética, apresentando gráficos e curvas quase perfeitas da relação entre a penetração de tecnologias limpas e os benefícios para o ambiente e o clima. A certo ponto, fui interpelado a comentar uma apresentação da Agência Europeia de Energia. A minha intervenção foi, para surpresa dos presentes, sobre pessoas. Defendi a ideia de que competia aos políticos ler as evidências e as interpretações da ciência para formular as opções e tomar as decisões. Mas fui mais longe, ao afirmar que, no fim do dia, seriam as pessoas a decidir.
José MendesBomba ao retardadorPortugal tem em mãos três programas de apoio financeiro, por fundos europeus: o que resta do Portugal 2020, o Plano de Recuperação e Resiliência e o Portugal 2030. Se o primeiro está já na sua reta final, uma vez que deverá encerrar a execução até ao final de 2023, os outros são capítulos que se abrem e que, com a espiral inflacionária que estamos a viver, podem estar em risco.
José MendesA falácia das cinco regiões – parte IINa semana passada defendi aqui que o modelo de regionalização a cinco regiões corre um risco sério de chumbar em referendo. Como não sou adivinho, não posso excluir que passe à tangente, pelo que hoje pretendo demonstrar que, nesse caso, estariam criadas as condições para um Portugal menos coeso e mais desigual. Na próxima semana, concluirei a série de artigos com a Parte III, onde apresentarei a minha proposta.
José MendesGuerra, pandemia e transições gémeasÉ dos livros. De história. Abalos, disrupções, descontinuidades, chamem-lhe o que quiserem, sempre empurraram a Humanidade para estádios mais avançados da sua existência. De caminho, provaram que a transição impossível era, afinal e quase sempre, possível. Foi também assim com a covid-19 e assim será com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
OpiniãoE a China?Poderá vir a ser a chave da solução para o conflito entre Rússia e Ucrânia. Falo do voto de abstenção da China na proposta de Resolução do Conselho de Segurança da ONU que pretendia condenar a invasão da Ucrânia. Na melhor tradição chinesa, a paciência foi o método, o que, no caso, significa para já afastar-se da Rússia, sem, contudo, a condenar. Não é ainda o tempo de a China levantar o dedo, mas vale a pena especular sobre os cenários possíveis.
José MendesBE e PCP em vias de extinçãoEsta crónica é sobre a esquerda à esquerda do PS. Mas começo por falar da direita à direita do PSD. O que aconteceu a 30 de janeiro mostrou como duas suspeitas se tornaram factos. A primeira é a de que os partidos podem ser extintos, à força das cruzes nos boletins de voto. Aconteceu com o CDS. A segunda é a de que os vazios criados no espetro partidário são necessariamente preenchidos, e nem sempre para melhor. Aconteceu com o Chega e a IL. Voltando à esquerda, a noite eleitoral do último domingo acelerou a espiral de extinção do PCP e do BE. Também do PAN, mas essas são contas de outro rosário. Perante esta tendência, a pergunta que me ocorre é se será este um caminho definitivo e quem ocupará o vazio criado.
José MendesRegionalizar com norte e sulO tema da regionalização reaparece no espaço público sempre que se aproximam eleições. Não que tal corresponda a um debate convicto e profundo, mas pela simples razão de que as forças partidárias concorrentes acham que, se picarem no tema, renovam a esperança dos eleitores mais distantes da capital. À timidez dos partidos, contraponho a necessidade de um referendo e a criação de apenas duas regiões.
OpiniãoMaioria absoluta?O problema que se coloca ao país nas eleições de 30 de janeiro é o de estabelecer um quadro de governação estável para enfrentar os desafios dos próximos anos. Fechar o ciclo negativo da pandemia, executar com aproveitamento o PRR, arrancar com o Portugal 2030 e acelerar nas transições gémeas - climática e digital -, modernizando a economia e atenuando as desigualdades, são empreitadas que não se compatibilizam com cenários de instabilidade política. Por isso, compreende-se que os partidos que aspiram a vencer as eleições ambicionem maiorias absolutas. As sondagens, porém, indiciam a grande dificuldade de PS ou PSD chegarem ao número mágico de 116 deputados. É pena, pelas razões que passo a explicar.
José MendesO fim do carvãoNeste final de novembro, acabou a utilização do carvão para produzir eletricidade em Portugal. O encerramento da Central do Pego, este mês, e da Central de Sines, em janeiro último, foi, objetivamente, a medida singular mais importante tomada até hoje em matéria de descarbonização da economia nacional.
José MendesE agora?O Orçamento do Estado não passou. Sem orçamento, ao que tudo indica, regressamos às urnas. Ainda sem data marcada, a eleição será para muitos um jogo de tripla, sem vencedor certo. Importa perceber como chegámos aqui, porque nasceu e morreu a geringonça e quais as opções possíveis para o futuro.
José MendesNão há duas sem três (crises)?Primeiro foi a crise das dívidas soberanas, iniciada há pouco mais de dez anos. Depois foi a da covid, que nos bateu à porta no início do ano passado. Entretanto, com o receio, fundado, da não aprovação do orçamento do Estado, pode chegar também uma crise política. Será que, como diz o povo, não há duas sem três?