
David Dinis

Até ao fim do mundo
Boa sorte, bom trabalho (boas férias)
Até ao fim do mundo
Palavra de honra
Correia de Campos, o compromisso e a honra do PSD. O PSD demorou oito meses a fazer um acordo com o PS. Aceitou o mais difícil: que caberia ao PS indicar a maioria dos novos juízes do Tribunal Constitucional; que seriam os socialistas a indicar o presidente do Conselho Económico e Social - um dos cargos mais influentes do Estado num momento sensível para a atividade económica. Aceitou também o nome proposto pelo PS. Justamente: Correia de Campos foi ministro da Saúde, mas não passou pelo cargo como quem passa por entre os pingos da chuva; foi sempre acutilante na defesa do partido, mas sem deixar de ser justo na apreciação, por exemplo, do que fez Paulo Macedo no último governo. Mesmo assim, na hora H, o PSD falhou no acordo que tinha dado. Por muitas voltas que se deem às contas da votação, 105 votos é muito longe da maioria de dois terços que o cargo exigia. E era precisamente por causa dessa maioria que era imprescindível o PSD votar. Não votou. Mas pior do que não votar, o PSD não pediu desculpa. Vou acreditar que o que aconteceu não foi boicote ao PS, pelo meio tramando Correia de Campos e o CES (que bem precisa de presidente). Vou acreditar também que não foi uma maioria silenciosa a tramar Luís Montenegro, o líder parlamentar que Marcelo elogiou - com veneno evidente a Passos Coelho. Vou, portanto, acreditar que foi desleixo. Seja. Mas será assim tão difícil aos políticos manter a palavra ou, pelo menos, pedir desculpa quando alguma coisa corre mal? Palavra de honra que não se percebe a Caixa. Não se percebe como o governo arrasta passo durante sete meses, sem dar orientações à administração cessante. Não se percebe como diz agora que a situação está ultrapassada, ou como demora tanto tempo a fechar uma equipa e mandar nomes para Frankfurt. Como alimenta a novela da recapitalização sem ter uma... solução. Mas, essencialmente, não se percebe isto: como Costa se queixa de Passos por este não ter resolvido todos os problemas da Caixa no final do seu mandato, mas antes o acusou de ter resolvido os problemas da TAP, da Carris, do Metro, dos STCP quando estava... a acabar o mandato. Sim, Passos podia (devia) ter deixado um dossiê pronto, sobretudo sobre a recapitalização - como não, se era Passos em 2015 que se dizia preocupado com a não devolução dos CoCos ao Estado? Mas, assim sendo, como pode o PS dizer que Passos não podia ter privatizado a TAP, ou cedido os outros transportes urbanos? E como pode o governo de Costa alegar que o governo não tinha legitimidade para decidir, quando reverte esses negócios legítimos? Mas a palavra de honra vale no Estado? (o caso do TGV). Nem de propósito, esta semana saiu uma decisão do tribunal sobre o cancelamento do TGV (em 2011, lembram-se?). Pois bem, diz o tribunal que o Estado não teve razão - e que não pode cancelar um projeto assinado sem mais nem menos. Esqueçam por momentos a fatura, que bem podíamos mandar ao engenheiro Sócrates. Esqueçam até (mas não devemos) a diferença abissal dos contextos. E pensem na palavra do Estado: esta ideia de reverter decisões só porque mudou o governo não terá nova fatura daqui a uns anos? Por falar na palavra do Estado, ainda temos o Novo Banco. O governo manda um documento para Bruxelas a dizer que não mete mais dinheiro no banco, sublinha até que, se não houver venda, o Novo Banco pode mesmo entrar em dissolução. Um dia depois vem o primeiro-ministro e diz que nada está excluído: nem nacionalização nem adiamento. Já nem vou falar do risco que é dizer em público a palavra dissolução, mais ainda sobre um banco e em versão oficial e timbrada. Mas há uma pergunta que tem de se fazer: a palavra de honra é a que está na carta que seguiu para Bruxelas, ou a que António Costa disse depois em Lisboa? A palavra do Presidente. A silly season começa com o Presidente da República a chamar os partidos, para os ouvir antes de férias sobre a "situação política". E a situação política tem pouco que nos deixe ir em descanso. Temos problemas na banca (a Caixa, o Novo Banco, o BPI, que ontem ficou adiado por mais mês e meio); temos uma economia em desaceleração; temos parte da "geringonça" magoada (o PCP, por ter sido posto fora dos nomes para o TC, sem que se perceba porquê); temos também sanções a caminho e muita pressão com um novo Orçamento. O Presidente chamou todos, mas teve mais uma palavra: não prevê crises políticas. Porque as sondagens não deixam, disse-nos ele. É um bom ponto para pensar nas férias: passaram nove meses sobre as legislativas e, a avaliar pelas sondagens, todos teriam hoje precisamente o mesmo resultado. Porque será?
Até ao fim do mundo
Aprender a viver com isto
Até ao fim do mundo
Política Kindergarten
Até ao fim do mundo
O pior sítio para se estar em tempos de incerteza
Opinião
A lição maior do Terreiro do Paço
O que é que fazem juntos, a sofrer, Assunção Cristas e Fernando Medina? O que é que fazem juntos no mesmo espaço, a sofrer, Pedro Filipe Soares e o assessor diplomático do Presidente da República? São apenas exemplos (entre outros que pode ver nestas páginas, mais outros tantos que nem cabiam nelas) no Terreiro do Paço, noite fora. Quando se trata da seleção nacional, não há partidos, não há divisões. É verdade: há sofrimento. Mas esse era partilhado por 20 mil pessoas, muito para lá dos VIP que nos fizeram ali companhia - e, é justo dizê-lo, da dezena e meia de polacos que por lá estiveram também.
Até ao fim do mundo
Over and out?
Acordar de madrugada com uma notificação no telemóvel vinda da BBC: "In stunning decision, britain votes to leave the EU". Levantar, correr, atender o telemóvel. Seguir para a TSF, preparar três horas e meia de emissão especial, sempre em direto. A notícia não tem hora certa, mas esta mudou muito mais do que uma manhã da rádio: desuniu o Reino Unido, lançou-o numa jangada de pedra, deu gás aos populismos internos, obrigou os bancos centrais a injetar (mais) milhares de milhões nos bancos, pôs as economias em standby. Over and out?
