Associação 25 de Abril solidária com Nogueira Pinto
O cancelamento de uma conferência na Nova sobre Trump e Le Pen, após pressões de alunos, gerou solidariedade de várias áreas
A Associação 25 de Abril juntou-se a várias vozes que condenaram ontem o cancelamento da conferência: "Populismo ou Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen", de Jaime Nogueira Pinto, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, convidando mesmo o politólogo e empresário a realizar a apresentação nas suas instalações.
"Contactei pessoalmente o professor Nogueira Pinto", confirmou ao DN Vasco Lourenço, presidente da associação, revelando que este agradeceu o gesto mas acabou por declinar o convite. "Nós somos pela liberdade de expressão, aliás por todas as liberdades em Portugal, e não gostámos de ver que, por umas razões ou outras, o professor Nogueira Pinto tenha sido impedido de fazer uma conferência sobre um tema que é atual", explicou. "Isto, independentemente das nossas posições políticas estarem muito distantes." Vasco Lourenço lamentou ainda a decisão da faculdade, motivada por uma tomada de posição em reunião geral de alunos promovida pela Associação de Estudantes da FCSH.
Jaime Nogueira Pinto disse ao DN, na segunda-feira, lamentar o cancelamento do evento - agendado para ontem à tarde: "Era uma conferência que ia fazer num meio académico, iria ser uma coisa analítica", explicou. "Mas parece que causou grande perturbação nos dirigentes da Associação de Estudantes."
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A decisão de suspender o evento partiu do diretor da Faculdade, Francisco Caramelo. Em comunicado enviado às redações ao final da tarde, a direção da FCSH relatou ter recebido "indicações relativamente à inexistência de condições de normalidade e de serenidade em que o evento deveria ter lugar". Isto depois de os estudantes, em Reunião Geral de Alunos terem votado uma moção exigindo o cancelamento do evento. Assim, "apreciada a ausência das indispensáveis condições de normalidade em que o evento deveria ter lugar, com a dignidade que o convidado e o tema em discussão mereciam, a Direção decidiu cancelar o evento", conclui o comunicado da FCSH/NOVA, que não atribui responsabilidades à associação de estudantes e convida Jaime Nogueira Pinto para um debate no futuro.
Contactada pelo DN, a direção da Associação de Estudantes da FCSH recusou a responsabilidade pela tomada de posição, defendendo ter sido apenas "um meio transmissor" da vontade dos alunos e de só ter tomado conhecimento do cancelamento "pela comunicação social". Questionada sobre quem teve a iniciativa de propor essa tomada de posição, a direção da AE da FCSH disse que esta partiu de "um grupo de alunos", não negando que entre estes "existem alunos que pertencem à Associação de estudantes como existem alunos externos" a esta.
Disse ainda que dar eco de uma tomada de posição dos alunos à direção da faculdade é uma obrigação que decorre dos seus "estatutos", desde que essa posição "não seja contrária ao disposto sobre direitos, liberdades e garantias". Questionada sobre se, na realidade, não estamos perante um caso de violação desses direitos, nomeadamente da liberdade de expressão, disse que "não".
Apesar deste distanciamento, a AE não hesitou há dias, numa publicação na sua página de Facebook em emitir "abertamente, uma nota de repúdio ao evento de cariz ideológico nacionalista e colonialista do núcleo que o promove". O núcleo em causa, intitulado de Nova Portugalidade - responsável pelo convite a Jaime Nogueira Pinto -, é visado pela associação por ter dado eco de uma posição considerando a descolonização um "trágico equívoco". O líder deste grupo, Rafael Pinto Borges, que pertence à Juventude Popular, já veio a público negar qualquer simpatia por ideais "racistas".