O céu ganhou uma nova estrela
Brilhas agora ainda mais alto, Caro Carlos.
É difícil distinguir o teu caminho sempre ascendente da história do Fado.
Talvez lá tenhas ido parar por acaso ou obrigação familiar, ou ainda porque nos códigos não escritos do Destino te estava reservado um lugar cimeiro de grande entre os grandes.
De facto, não interessa muito, saber como lá foste parar. O que não posso esquecer é os passos dados. Os passos cantados. O Frank Sinatra havia de ficar invejoso, com a tua elegância, no palco e fora dele. Sim sem dúvida um príncipe. A elegância da tua voz encontra par na elegância dos teus gestos. Uma voz que acrescentou ao fado timbre, novos modos da música, novas palavras. A poesia foi entrando na tua língua e nunca mais a deixou.
Cresceste com poetas e fizeste crescer poetas. Cresceste com músicos e fizeste crescer músicos. Nada te deram que não retribuísses em dobro.
O Fado foi e é uma canção em construção. Assim desde o princípio, perdido e discutido no tempo e na origem. Tu nele colocaste também os teus tijolos, o teu cimento. Nele ergueste casas, torres, pátios e varandas. Aqui fizeste abrigos e pontes, vozes de revolta e mensagens de revolução, de luta, de paz.
E quando as jovens esperanças precisaram do teu sopro para voar, não viraste as costas. Antes encheste o peito de ar e modelaste asas com canções. Muitos e muitas vozes do Fado reconhecem essa tua luz. E quando quiseram mostrar ao mundo que o Fado é património de todos, que é uma marca portuguesa no mapa da cultura universal, tu estiveste lá. Ajudaste com o teu génio, energia e carisma a elevar o Fado a Património da Humanidade.
Deram-te medalhas e honrarias. É bonito, mas não é o que interessa mais. O que é bom de saber, é como nós, Portugueses, nos reconhecemos na tua voz, na tua música, na tua palavra.
Quando tu cantas, não só sabemos que estamos em casa como sentimos que a nossa casa é grande. A tua voz alarga o espaço da nossa casa comum, dá-lhe tessitura, forma, alma.
Agora vou ouvir-te, vou escutar-te, como sempre fiz, com alegria, respeito e sentido de pertença. Pertenço-te, dentro da tua canção, e tu pertences-me, no espaço sanguíneo dentro do peito.
Obrigado, Caro Carlos, por fazeres maior a nossa casa comum. Que as estrelas do céu noturno mostrem a tua luz, quando nos debruçarmo-nos sobre elas, deitando a cabeça na tua voz.
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