
Opinião


Manaus sem oxigénio é espelho do negacionismo bolsonarista
O coronavírus ataca de maneira agressiva os pulmões a causar uma grave inflamação que gera dificuldade na absorção do oxigénio, vital para a sobrevivência dos demais órgãos. Conforme a capacidade de captação de oxigénio diminui, o paciente faz mais força para encher os pulmões. Chega um momento em que esse esforço não resulta, o organismo acusa a baixa concentração de oxigénio e é quando se passa a usar outros músculos do abdómen na tarefa de encher mais ainda os pulmões, qualquer médico ou profissional de emergência reconhece o desconforto respiratório ao notar esse movimento torácico. Esse processo é exaustivo, querer muito esforço físico e o paciente, debilitado, perde a capacidade de respirar e forçar a entrada de ar em seus pulmões.

Falar de poesia hoje?
A atualidade rodeia estas minhas palavras com o alto vibrar dos resultados eleitorais, nas suas vitórias e derrotas, e com a terrível música de fundo da pandemia, nos seus lutos e alarmes. Parecerá então falar hoje de poesia atitude semelhante àqueles jogadores de xadrez do poema de Ricardo Reis que ficam suspensos "de marfim peão mais avançado/ pronto a comprar a torre" ainda que "caiam cidades, sofram povos, cesse/ a liberdade e a vida"?
Luís Castro Mendes

Lembrar um conto popular…
Importa sensibilizar os portugueses para a tomada de consciência da necessidade de uma proteção solidária. Como disse o Presidente da República, muito bem, a primeira prioridade é o combate da pandemia. Importa cerrar fileiras para enfrentar o perigo real com que o mundo se defronta. Não está em causa a liberdade e o direito, mas o respeito mútuo de uma cidadania livre e responsável. Daí a necessidade de uma maior coordenação nacional, europeia e internacional e de medidas excecionais que correspondam ao que o direito designa como estado de necessidade, em nome da preservação da vida de muitas pessoas.
Guilherme d’Oliveira Martins

Duas ideias insensatas, ou talvez não
Sei que corro o risco de parecer mais um desses "especialistas" sobre pandemias que, no último ano, têm proliferado em todos os países e meios, debitando "bocas" sobre o novo coronavírus, os meios para a enfrentar, as relações entre ciência e política, a maneira como os governos devem ou não lidar com este problema que continua a manter a humanidade virtualmente paralisada e outros tópicos correlatos.
João Melo

Coisas boas destas presidenciais
Aquilo que não aconteceu na campanha aconteceu na noite de domingo: Marcelo acusou o Chega de ser contra a democracia e Rui Rio colocou-o na "extrema-direita", assumindo o PSD como centro. Tudo certo: agora é só agirem em conformidade.
Fernanda Câncio

Marcelo e a espada de Eanes
Ainda bem. E que o Senhor o acrescente!, diria a minha sogra da reeleição de Marcelo. Eu acrescento que, por mais que festejemos um e justifiquemos os outros, o problema é o outro - ou pior, são outros. Um é aquele que multiplicou por sete o número de votos arrebanhados à esquerda e à direita, resultado da incapacidade do sistema para responder às chagas dos nossos dias: desemprego, medo, miséria, fome, doença - o calvário de gente, muita gente, gente nossa, com rosto, o da desigualdade persistente, que gera populismos, violência e ódio. Em jogo, diante de nós, encontram-se duas lógicas: a dos partidos tradicionais e a da sociedade. As eleições de domingo demonstraram que elas deixaram de coincidir.
Afonso Camões

O segundo mandato e o futuro político da nação
O combate à pandemia e aos seus efeitos económicos e sociais será um dos desafios do segundo mandato do reeleito Presidente da República.
Rosália Amorim

Carta aberta ao Embaixador da Índia em Portugal: Celebrar a Constituição, defender os direitos humanos
Exmo. Senhor Embaixador Manish Chauhan
Miguel Almeida

Estou furioso: se for votar, sou criminoso!
Estou mesmo furioso: nestas Presidenciais, se sair de casa para ir votar, sou criminoso! Se consultarmos o site oficial do SNS, há uma clarificação sobre este assunto:
Pedro Afonso

Carta aberta a meu amigo Avito
O Filipe acaba de me dar a triste notícia com voz embargada e plangente: o nosso Avito é uma saudade. Partiu esta madrugada.

Depois da pandemia a Troika?
Portugal, devido a uma duplamente deficiente gestão da pandemia, enfrenta, para além de uma tremenda crise humanitária que custa diariamente centenas de vítimas mortais evitáveis, uma das mais severas recessões económicas das últimas décadas.
Jorge Fonseca de Almeida

Aulas online: público e privado
A não autorização de aulas online nas escolas privadas, durante as duas semanas em que as escolas públicas vão estar encerradas também sem elas, suscitou alegações de inconstitucionalidade por violação da "liberdade de aprender e de ensinar", em particular, e do "princípio de proporcionalidade" em geral. Menos aflorado e valorado tem sido o que, salvo opinião mais bem argumentada, está principalmente em causa: o "princípio da igualdade". Vejamos.
A. Reis Monteiro

Celebrar a educação em tempos de covid-19
Comemora-se hoje oficialmente o Dia Internacional da Educação, com o tema "Recuperar e revitalizar a educação para a geração da covid-19". Nada mais apropriado no momento em que as nossas escolas do pré-escolar, básico e secundário se encontram encerradas devido à terrível situação que Portugal atravessa, com um número crescente de infetados e mortos, e um Serviço Nacional de Saúde à beira do colapso.
Margarita Correia

O fado do "Estado adiado" e a ascensão do "Estado necessário"
Portugal está, há anos, a discutir reformas do Estado. Expressões como "gorduras do Estado", "consumos intermédios", "Estado regulador" ou "Estado mínimo", quase todas mais decorrentes do avanço da ideologia neoliberal do que da realidade ou das necessidades das funções do Estado, passaram a fazer parte do léxico comum da classe política nacional.
Isaltino Morais

Aprofundar a descentralização e desenvolver o país
A recente entrada em funções das comissões de coordenação das regiões, decorrentes do processo de descentralização iniciado pelo governo, pode e deve assumir, no atual contexto nacional e europeu, uma grande importância para a necessária articulação, coordenação e cooperação interinstitucional num contexto complexo em que vivemos de crise económica e social na pandemia.
José Maria Costa

Presidente reforçado
Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República com margem confortável para consolidar o seu espaço de manobra e reforçar a sua independência. Os votos vieram não apenas da área da sua família política de origem, PSD e CDS, mas também do PS mais moderado. Esta circunstância, se não lhe permitiu alcançar valores ainda mais expressivos, fruto também da pandemia, dá-lhe agora conforto para agir respaldado num consenso alargado do espaço democrático.
Assunção Cristas

Eclipse à esquerda favorece Costa
Há cinco anos, contra Marcelo Rebelo de Sousa, a esquerda teve mais de 40% dos votos e a direita ganhou à primeira volta. Desta vez, Marcelo foi o candidato do bloco central e a esquerda que entendeu ir a votos ficou-se pela metade. PCP e Bloco quiseram marcar terreno e o tiro saiu pela culatra. A agravar o erro estratégico de comunistas e bloquistas, a consolidação da extrema-direita reduz-lhes a quase nada o espaço de manobra para afirmar opções políticas que possam pôr em causa a estabilidade política. Uma maioria de direita já não é impossível e será tão mais provável quanto mais a esquerda se mostrar dividida.
Paulo Baldaia

Manifestação cívica
A eleição para um segundo mandato presidencial gera tradicionalmente elevado nível de abstenção, mas a taxa de abstenção foi abaixo dos 70% que se temia uns dias antes da data das eleições. No contexto de pandemia e de confinamento, em especial do aumento do número de mortes e de infetados nas últimas semanas, a maior participação dos cidadãos pode ser interpretada como um ato de coragem ao votar no pico da pandemia e uma manifestação de crença na democracia, sobretudo quando vários candidatos alertaram, na ponta final da campanha, para os riscos da abstenção elevada e do fantasma do populismo.
Rosália Amorim

A grande derrotada
Há 24 semanas que os bielorrussos marcham contra o regime de Lukashenko. Há quase dois anos que ativistas pela democracia são perseguidos em Hong Kong. Há já três dias que se sai à rua na Rússia em defesa de Alexei Navalny, líder da oposição a Vladimir Putin. Em Yakutsk, na Sibéria, os protestos realizaram-se sob uma temperatura de 52 graus negativos.
Sebastião Bugalho

Um problema à distância
Apesar de a política europeia estar frequentemente refém de eleições nacionais - coisa de que os europeístas se queixam muito -, o resultado das presidenciais portuguesas é praticamente irrelevante para o destino da Europa. Por um lado, porque o vencedor faz parte do desconhecido Grupo de Arraiolos, que de tempos a tempos junta os chefes de Estado que não têm competências em matéria de política europeia, mas que, ainda assim, gostam de se encontrar. Por outro, porque nunca houve, e continua a não haver, uma questão europeia nas eleições presidenciais portuguesas. Nem nas restantes, nos últimos anos. Mas começa a haver um problema.
Henrique Burnay

Juventudes Partidárias não são centros de emprego!
Os jovens são o futuro de qualquer Estado de Direito que pugne pela prosperidade, atualidade e mudança. São estes os grandes shappers e lapidadores de uma democracia melhor, afastada do pensamento congelado e "velho".
João Pedro Leitão

Brilhante, Portugal!
Brilhante é o que se poderá dizer, sem favor, do desempenho dos portugueses nas eleições presidenciais. A afluência às urnas bastante expressiva, se atendermos às previsões catastróficas, que, sobre a mesma, se faziam e a organização do acto eleitoral, impecável na segurança e funcionamento, demonstraram que a democracia está profundamente enraizada entre nós.
Simões Ilharco

Fantasiar Bugios ou bugiar?
Quando trabalhava perto do rio, ia muitas vezes pela marginal e procurava poiso onde pudesse contemplar a sesta dos cargueiros e o Forte de São Lourenço da Cabeça Seca, dito do Bugio, iniciado em finais do século XVI, sob a direcção do frade que Filipe I mandou vir de Nápoles. Os cargueiros são, aos meus olhos, a mais depurada ideia de casa movendo-se sobre as águas.
Fernando Alves

A nova Casa Branca e o Médio Oriente
Poucos dias antes da mudança na Casa Branca em Washington, o governo israelita reconheceu a construção de 780 mais 2600 novos apartamentos para os colonos judeus na Cisjordânia. Em 2020 eles decidiram construir cerca de 12 mil novos apartamentos e durante a administração do presidente Trump foram construídas 27 mil novas casas no total.
Mirko Stefanovic

"Ainda por aqui ando"
Bucareste, junho de 2019. Aterro no aeroporto internacional para participar no Conselho Europeu do dia seguinte. Como tinha um par de horas de folga, resolvi ir à Sala Polivalente do Dínamo assistir ao jogo de andebol que opunha a Roménia a Portugal e que era decisivo para nos apurar para o Europeu de 2020. Chego em cima do intervalo. À passagem da equipa a caminho do balneário, desço junto do campo e grito "Humberto." E ali estava ele, um dos nossos guarda-redes, com o seu largo sorriso. Aproximou-se e respondeu-me: "Ainda por aqui ando, professor!"
José Mendes

2021: o ano da normalização económica
Annus horribilis: assim ficará 2020 conhecido na história - o ano em que o nosso pior pesadelo se tornou realidade, com a propagação de um vírus que fez centenas de milhares de mortos e que está a provocar uma contração económica como desde há décadas não se conhecia. Mas se, por um lado, ainda não é possível apurar a sua verdadeira magnitude, por outro, a resposta fiscal e monetária da Europa também é muito diferente da resposta à anterior crise financeira.
Juan Carlos Martínez Lázaro

Pandemia-hoje: com o coração apertado e a razão inquieta
Apelos reforçados para nos ajudarmos uns aos outros. E assim aliviar também, o mais rapidamente possível, o trabalho, quase impossível, daqueles que nos tratam quando ficamos doentes. Mas, ao mesmo tempo, apelar também à inteligência, à razão, para percebermos bem o que se passa e preparar, mesmo agora nestes dias sombrios, o futuro mais próximo. O nosso e o dos outros.
Constantino Sakellarides

Telefonem ao homem
A história da presidência portuguesa da União Europeia dificilmente seria bonita de viver. António Costa concebeu o seu segundo governo com um programa e uma equipa preparados para seis meses que, com a pandemia, não existirão. A transição digital e energética mantém-se nas prioridades para a recuperação pós-pandémica, mas as dinâmicas políticas estão mais centralizadas e as fragilidades dos países mais pobres, como Portugal, mais expostas.
Sebastião Bugalho

Faz de conta que Fran Lebowitz é uma instituição
Que nome é que damos a pessoas sentadas num bar, a fumar cigarros e a conversar umas com as outras? História da arte." É um aforismo razoável, no sentido em que cumpre os dois requisitos essenciais do aforismo (ao contrário de muitos candidatos a aforismos): não é nem demasiado óbvio nem obviamente falso, e as premissas não podem ser invertidas sem perda de sentido ou qualidade.
Rogério Casanova

Abraham Lincoln e o valor das palavras
No seu programa The Tonight Show (NBC), ao comentar algumas imagens da tomada de posse de Joe Biden, Jimmy Fallon referiu-se ao gesto tradicional do novo presidente, colocando a mão esquerda sobre a Bíblia, neste caso numa edição de dimensões francamente invulgares: "Biden fez o seu juramento com uma Bíblia gigante que pertence à sua família desde 1893." Depois de apresentar um plano aproximado do livro, seguro por Jill Biden, observou: "Aquilo não é uma Bíblia que se encontre num armário. Aquilo é um armário." Rematou mesmo dizendo que até o Papa terá considerado que "foi um bocadinho excessivo".
João Lopes

A inevitabilidade do estímulo alemão
A vitória de Armin Laschet na eleição para liderar a União Democrática Cristã da Alemanha (CDU) coloca-o na linha da frente para suceder à chanceler Angela Merkel no final deste ano. Mas a competição pela liderança era mais sobre diferenças de tom e estilo do que de conteúdo. Do ponto de vista da política, não faz diferença.
Melvyn Krauss

"Como pode a catástrofe alguma vez vencer-nos?"
O meu irmão partiu na segunda vaga, em novembro. Tinha 50 anos e um processo oncológico, descoberto meses antes. A covid-19 acelerou a gravidade da doença de tal forma que, em menos de uma semana, sucumbiu.
Daniel Deusdado

Portugal e os portugueses. Somos feitos de quê, afinal?
"Dando a Portugal um lugar de honra no meu livro não fiz mais do que prestar-lhe justiça" foi o título de uma entrevista no DN, há uns anos, a François Reynaert, que contrariou tudo o que é tradição na historiografia francesa e sobretudo na anglo-saxónica, que destacam sempre mais as façanhas de Jean-François de La Pérouse e de James Cook, no século XVIII, do que os feitos de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama ou Fernão de Magalhães dois séculos antes. O livro de Reynaert, para não deixar dúvidas do alcance das suas palavras, tem como título A Grande História do Mundo.
Leonídio Paulo Ferreira

Filide, nome de guerra
Morreu, enfim, rodeada da maior piedade. Deixou expresso que queria ser enterrada na igreja da sua paróquia e, à medida que o fim se aproximava, fez vários legados a instituições religiosas dedicadas à Virgem, para que, quando partisse, lhe rezassem missas pela alma impura. Na penúltima cláusula do testamento, atestado por um notário diligente, ordenou que um quinto dos seus bens fosse deixado às Convertidas (assim se chamavam aquelas que largavam o meretrício e a má vida) e o facto é tanto mais curioso quanto fora junto à casa dessa irmandade, encostada ao muro, que, durante anos, vendera o corpo em mortal pecado.
António Araújo

O Papa Francisco e o desporto. 3
Os jornalistas da Gazzeta dello Sport perguntaram-lhe se tinha pensado em escrever uma encíclica sobre o desporto. Francisco: "Explicitamente não, mas há muitos elementos dispersos nas minhas intervenções, sugerindo, por exemplo, como o desporto pode ajudar ou pelo menos dar um contributo para a globalização dos direitos. A cada quatro anos há os Jogos Olímpicos, que podem servir de farol para os navegantes: a pessoa no centro, a pessoa orientada para o seu desenvolvimento, a defesa da dignidade de todas as pessoas. Contribuir para a construção de um mundo melhor, sem guerras nem tensões, educando os jovens através do desporto praticado sem discriminações de nenhuma espécie, num espírito de amizade e de lealdade."
Anselmo Borges
