Cachupa, húmus e vegetarianos: a carne assada caiu em desuso nos jantares de campanha
As campanhas já não são o que eram. Nem a comida, sendo o prato de carne assada - tantas vezes escolhido - cada vez menos opção. Há cachupa, húmus, bacalhau, opções vegetarianas. E o PAN tem uma campanha isenta "de produtos de origem animal".
Quando as travessas chegam às mesas, todos esperam o prato único que ali se serve: cachupa, provavelmente o prato mais inesperado num almoço de campanha eleitoral. O contexto explica: estamos na Associação Cabo-verdiana em Lisboa, onde o PS promove um almoço com comunidades migrantes. Estamos longe do chamado roteiro da carne assada em que os partidos se especializaram, durante anos, nas suas campanhas eleitorais.
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A campanha que está na estrada a caminho das eleições legislativas de 6 de outubro promete, neste capítulo, ser diferente. Por um lado, os partidos têm menos refeições acompanhadas de discursos, em que militantes e simpatizantes exasperam à espera de que os pratos cheguem à mesa - e isto por si só reduz a possibilidade de se apanhar carne assada.
O PS reduziu ao mínimo este formato na atual campanha: o almoço de cachupa na quarta-feira da semana passada foi uma quase exceção, mas realizou-se num espaço pequeno, como é o restaurante da associação no oitavo andar de um edifício no centro da capital, sem as multidões que enchem estas iniciativas partidárias.
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O PS reduziu ao mínimo este formato, muito usado em campanhas anteriores (como a de José Sócrates) na atual.
© Global Imagens
Os socialistas tiveram ainda um almoço-convívio em Matosinhos e, manda a tradição, o almoço no último dia de campanha, a 4 de outubro, na Cervejaria Trindade, em Lisboa, antes da descida do Chiado. Sem carne assada, portanto. Também no PSD a campanha segue um formato que vai dispensando o prato que era praticamente obrigatório em todos os comícios à mesa. Neste ano já houve massada de peixe, carne de porco à alentejana e arroz de pato.
Não se trata de nenhuma adesão a anúncios universitários ou de perseguição a velhos hábitos alimentares, mas os restantes partidos também adiantam menus que poupam apoiantes e jornalistas à carne assada. O CDS, que criticou o anúncio do reitor da Universidade de Coimbra de que as cantinas universitárias iriam deixar de servir carne de vaca, teve no seu primeiro jantar na terça-feira da semana passada um arroz com lombo, batatas e legumes, e sopa também de legumes.
Na CDU, onde as refeições são preparadas por militantes, neste ano já houve uma jardineira de galinha, em Arraiolos, uma carne de porco à portuguesa (uma variação sem amêijoa da carne à alentejana) e uma feijoada.
Neste campo, a coligação comunista e ecologista leva a palma, argumentam jornalistas que vão acompanhando as campanhas dos diferentes partidos. Um exemplo, já com dez anos: num jantar em São Pedro da Cova, Gondomar, os comensais tiveram direito a papas de sarrabulho. Uma iguaria. Mas quando alguém pediu um prato vegetariano teve de enfrentar a incompreensão por não querer comer "uma comidinha tão boa". O prato de alface e tomate era uma hipótese. Outros tempos.

Na CDU, as refeições são desde há muito tempo preparadas por militantes. Este ano já houve uma jardineira de galinha, em Arraiolos, uma carne de porco à portuguesa e uma feijoada.
© Arquivo DN
Hoje, as opções vegetarianas e mesmo veganas entraram no léxico de alguns partidos também nas ementas, não apenas no postulado de propostas políticas. O Bloco de Esquerda tem sempre uma alternativa sem carne. Num almoço da "cultura" foi servida uma sopa de legumes, um bacalhau à Sabor, que é frito em molho de tomate, com batata frita às rodelas e salada, e bolo brigadeiro e espetada de frutas na sobremesa. Nas entradas houve patês e húmus. Como opção vegan foi servida uma soja salteada com cogumelos e legumes.
Para a refeição em Santa Maria da Feira, na passada segunda-feira, dia 30, foi servida carne à portuguesa acompanhada de migas e salada, repetindo-se o prato vegano. A sopa foi de peixe, o bolo de bolacha e repetiu-se a salada de fruta, como as entradas de patês e húmus.
Fora da rota da carne assada está, como é óbvio, o PAN. Aliás, o partido Pessoas-Animais-Natureza está fora de qualquer rota que tenha carne ou aparentados nas suas iniciativas. As "refeições serão isentas de produtos de origem animal", sublinhou o partido. Sem almoços e jantares no formato dos outros partidos parlamentares, a caravana - que pretende deixar uma "reduzida pegada carbónica" no seu transporte pelo país - procura sempre restaurantes vegetarianos ou, onde não os há, pratos sem carne. No "jantar de campanha", com que encerra estes 15 dias oficiais de contacto com os portugueses, nesta quinta-feira, dia 3, o PAN aposta numa refeição vegana